Você toma Metformina?
Postagem criada em 23 de março de 2017, atualizada em 19 d abril de 2018
Para os que desconhecem sobre essa substância, sabemos que, na sua essência, a metformina é uma medicação utilizada para diabéticos tipo 2, visto que além de reduzir os níveis de glicose, pouco promove hipoglicemia (quedas graves da quantidade de glicose, o açúcar, na corrente sanguínea), além de contribuir na perda de peso.
Essa substancia foi liberada pelo FDA (Foods and Drugs Admnistration) - organização de vigilância farmacêutica Americana- em 1994, mas ela é utilizada há tempos. Uma vez que seu princípio ativo descende da guanidina, encontrada na planta Galega officinalis, há registro do seu uso desde 1772, e não somente para sintomas de hiperglicemia mas também para febre, epilepsia e vermes.
Quanto a sua ação, sabe-se que ela atua no fígado ajudando na quebra dos estoques de “açucares”, sendo uma medicação muito boa nos casos de “esteatose hepática”.
A esteatose hepática ocorre quando o fígado fica com muito acúmulo de gordura. A gordura é uma das formas do corpo em estocar o açúcar (glicose) em excesso.
Apesar de ainda desconhecer exatamente como essa droga atua no organismo, observa-se que a metformina "ajuda" o hormônio insulina "a trabalhar".
Em outra palavras, as pessoas que sofrem de resistência insulínica, (em outras palavras, quando a insulina sofre dificuldade para funcionar; algo que a impede de fazer a sua função), a metformina auxilia a insulina a realizar a função dela.
A insulina tem relação com a glicose, o açúcar, e por sua vez, mais uma vez, auxilia o diabetes.
É curioso, a metformina não tem todo seu mecanismo totalmente compreendido, mas está indicada como a droga de escolha no manejo da diabetes pelos principais guidelines mundias. Isso por que ela reduz a glicose, promove poucos efeitos colaterais, tem baixo custo, não aumenta o peso e nem aumenta risco de doenças cardiovasculares futuras.
Poderia a metformina contribuir com MAIS? E não é que sim?
Acredita-se que parte da dose da metformina não é absolvida do intestino para o interior do corpo, e que lá dentro do intestino, ela também teria ações nas células intestinais chamadas enterócitos. Lá, ela reduziria a ingestão de 200-300 kcal por dia.
Vocês têm ideia dessa proporção?
Seria a redução da ingesta de uma refeição principal de uma pessoa que come normal. Ou seja, a pessoa que ingere metformina, deixa de absolver uma refeição por dia em caloria, mesmo que não modifique seus hábitos alimentares. Porém os resultados desses valores na balança não se mostram significativos. O uso de metformina em diabéticos proporciona uma perda de peso relativa de 2 kg variando 5 kg para mais ou menos, mas não se anime, pois há vários outros estudos mostrando resultados de perda de peso bem menores.
Nem tudo está perdido pois ainda tem um “plus” de informações pra hoje!
Essa redução de caloria seria preferencialmente pela não absorção de carboidratos, o tipo de elemento mais ingerido na má- alimentação, por promover a proliferação de uma flora intestinal que degrada bem os outros nutrientes que não os carboidratos, uma flora associada com várias outras ações que contribuem a saúde como um todo.
Quem não leu tudo isso e não ficou com vontade de tomar a metformina?
Porque confesso, até eu fiquei!
E não poderia ser diferente, tudo tem um preço: foi observado que a metformina diminui a absorção de vitamina B12, sendo necessário o controle constante, através de dosagens, dessa vitamina. A deficiência de B12 está relacionada a maior progressão do mal de Alzheimer e esquecimento, além da anemia megaloblástica. Essa avaliação ainda é controversa, pois se de um lado há estudos mostrando relação entre metformina e vitamina B12 reduzida, piorando o Alzheimer, por outro, há estudos mostrando metformina e redução da glicose com redução da formação de placas de beta amiloide, que reduziria a progressão e melhorando a doença em questão.
Lembre-se que essa substancia também é contra-indicada em doença renal avançada.
Há estudos tentando entender a possível ação da metformina:
Nos músculos,
Na prevenção da evolução de alguns cânceres (fígado é um deles),
Na mudança de flora intestinal (aumentando a prevalência especialmente da espécie de Akkermansia muciniphila),
da relação dessa flora com a ação em reduzir a glicose sanguínea,
Na ação intestinal, cerebral e hepática dessa substancia,
Aumento da imunidade.
Portanto, muito cuidado com as reportagens sensacionalistas que só falam dos benefícios e sequer sabem das consequências, tem muita coisa pra entender sobre a metformina, de forma que ela não é uma medicação ruim: é segura, é eficaz e pode trazer inclusive outros benefícios, porém deve ser indicada para o perfil de pessoa correto.
Sempre, sempre, procure um especialista para avaliar o seu caso, pois nada substitui uma consulta medica e uma avaliação completa do paciente.
Um beijo a todos;
Dra. Lia Lima.
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