Você Precisa Repor o Iodo?- Com Dra. Lia Lima
O que é o IODO e sua FUNÇÃO no organismo humano:
O iodo é um micronutriente essencial ao bom funcionamento do corpo humano, no entanto, nosso organismo não consegue produzi-lo, razão pela qual temos que obtê-lo na dieta, sendo importante destacar que não há substancia capaz de substituir a função do iodo no nosso corpo. Quando nosso corpo necessita de algum nutriente que ele não é capaz de produzir, obrigando-nos a oferta-lo através da dieta, chamamos de NUTRIENTE ESSENCIAL.
Esse nutriente participa da formação de hormônios vitais, os hormônios tireoidianos, produzidos pela glândula tireoide, que controla o metabolismo. Então o iodo é uma substancia que está indiretamente relacionada ao metabolismo.
Além disso, acredita-se que o iodo possa participar de outras atividades extra tireoidianas, mas essa relação ainda não está completamente provada.
A tireoide, glândula que se situa no pescoço, produz os hormônios T3 (Triiodotironina) e T4 (Tiroxina), ambos obedecendo ao estímulo do hormônio TSH (Hormônio estimulante da tireoide), que é produzido na glândula hipófise, que fica no interior do cérebro. O T3 e o T4 controlam o metabolismo das células do corpo e o iodo participa da estrutura desses hormônios.
ALIMENTOS COM IODO:
Encontramos iodo em alguns alimentos como: frutos do mar, leite e ovo.
A REGULAMENTAÇÃO DO IODO:
Nem todos os países adotam a estratégia de adicionar o iodo ao sal de cozinha, pois a quantidade de iodo na população varia de acordo com os hábitos alimentares. A avaliação da população brasileira constatou que ela se encontrava com ingesta de iodo abaixo do fisiológico, sendo a causa para algumas doenças. Dessa forma, a regulamentação que obriga a iodação no Brasil foi autorizada.
Para ser considerado próprio para consumo humano, o sal deve conter teor igual ou superior a 20 (vinte) miligramas até o limite máximo de 60 (sessenta) miligramas de Iodo, por quilograma de produto. Este teor está estabelecido pela Resolução RDC nº 130, de 26 de maio de 2003.
A quantidade de Iodo que necessitamos em toda nossa vida é o equivalente a uma colher de chá, porém o Iodo não pode ser estocado pelo organismo e deve ser ofertado em pequenas quantidades continuamente. O produto que cumpre este papel é o sal, por ser consumido continuamente em pequenas quantidades diárias. Além disso, o Iodo não afeta sua aparência nem sabor e as técnicas de iodação são simples e de baixo custo.
As doses recomendadas de ingesta de iodo são diferentes em cada fase da vida, valendo destacar as quantidades recomendadas pela OMS (Organização Mundial de Saúde):
Grávidas 250 µg/dia;
Mulheres a amamentar 250 µg/dia;
Crianças > 12 anos e adultos 150 µg/dia;
Crianças 6-12 anos 120 µg/dia;
Crianças 0-5 anos 90 µg/dia.
A par dos dados acima, é possível constatar que, durante a gestação e no decorrer da fase de amamentação, é necessário o consumo de quase o dobro de iodo para que a função da tireoide se mantenha em equilíbrio, isso porque nesses períodos, os hormônios presentes no organismo da mulher estão em quantidade mais elevadas e induzem uma maior atividade da glândula tireoide.
Vale acrescentar que baixíssimas doses de iodo na gestação podem causar danos ao feto, como retardo mental, cretinismo e até abortos precoces. Deficiência severa de iodo na gestação, está erradicada desde a estratégia da OMS em repor iodo no sal de cozinha. No entanto, deficiências leves de iodo podem ser encontradas na gestação pela alta necessidade de iodo nessa fase. Ainda não está comprovado, mas parece que crianças de mães que tiveram déficit leve a moderado de iodo na gestação, podem apresentar dificuldade de intelecto nas fases da infância entre 7 a 10 anos. Por isso, alguns polivitamínicos prescritos no Brasil, e autorizados pela ANVISA, possuem suplementação de iodo. Vale também alertar que altas doses de iodo podem causar uma “parada” no funcionamento da tireoide da gestante e ela apresentar hipotireoidismo temporário ou até acelerar a função da glândula, causando hipertireoidismo gestacional.
O que é necessário e ainda não foi feito, é uma avaliação da situação do iodo consumido pelas gestantes nas diferentes áreas do Brasil. Somente assim poderemos garantir a real necessidade de suplementar iodo ou não nessa fase, além do já realizado através do sal de cozinha e poli vitamínicos.
NÃO é necessário consumir muito sal para repor iodo!
Apesar de estimativas apontarem que o brasileiro consome cerca de doze gramas de sal diariamente, o consumo de um adulto deve ser, no máximo, de 6 gramas de sal por dia. Assim, considerando-se que 1 kg de sal tenha 30 mg de Iodo, um adulto estará consumindo em média 0,18 mg de Iodo (180 microgramas).
A suplementação de LUGOL 5%:
O que precisa ficar bem descrito aqui é que o Lugol a 5% possui, em 2 gotas, a dose geralmente prescrita por vários profissionais para gestantes e não gestantes, possui o total de 13.000 mcg de iodo, sendo bem além das necessidades diárias para o bom funcionamento do corpo em qualquer fase da vida, descrito anteriormente. Sendo assim, a suplementação de iodo através desse método é um grande risco.
Uma das teorias, que se tenta justificar, essa elevada ingesta de iodo, através do lugol, é que o iodo, lá presente é inorgânico e, portanto, seu excesso será excretado na urina, e que o intuído maior não é suplementar as necessidades de iodo para a tireoide e sim para sua atividade extra tireoidiana.
O iodo, adicionado aos sais do Brasil, também são inorgânicos, e seu excesso deve ser excretado. Mas isso não exclui a chance de intoxicação, riscos e consequências. O excesso de ingesta desse elemento, mesmo que pela via de excesso de sal, causam danos a tireoide como: o aumento da autoimunidade (acelerando o hipotireoidismo de Hashimoto) e/ou “parada” da tireoide (efeito Wolff-Chaikoff), até o hipertireoidismo.
Diante das elevadas doses de iodo presente nas gotas de iodo do Lugol, cerca de 10 vezes mais que o considerado seguro na ingestão diária pelas entidades médicas, vejo muito risco nessa estratégia e pouca segurança, através de estudos seguros.
O IODO É UM DESAFIO!
Há estudos mostrando benefícios do iodo com a prevenção de câncer de mama e na progressão do Parkinson, apoptose e cicatrização, porem eles são em uma pequena população, e as vezes em uma população específica.
A verdade é que o iodo, apesar de ser um elemento natural, e não uma droga, é pouco conhecida e pouco estudada, sendo ainda um desafio para a ciência e um risco para quem o utiliza em doses não indicadas.
Boa leitura,
beijos,
Dra Lia Lima
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Referencias:
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